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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Professor como fio condutor da educação em tempos de vídeoaula

Há cerca de um mês atrás, exatamente no dia 12 de março de 2020, eu entrei em sala de aula pela última vez. Era uma quinta-feira, véspera do decreto municipal que suspendeu todas as atividades presenciais das instituições de ensino da cidade. De lá para cá, entro toda semana em salas virtuais da Google, onde divido uma tela de computador com meu Power Point e meus alunos, todos em seus respectivos computadores ou celulares e em casa.

André Braga *

Há cerca de um mês atrás, exatamente no dia 12 de março de 2020, eu entrei em sala de aula pela última vez. Era uma quinta-feira, véspera do decreto municipal que suspendeu todas as atividades presenciais das instituições de ensino da cidade. De lá para cá, entro toda semana em salas virtuais da Google, onde divido uma tela de computador com meu Power Point e meus alunos, todos em seus respectivos computadores ou celulares e em casa. É uma mudança paradigmática sem precedentes. Dar aula sentado e não em pé; não conseguir um retorno imediato em perguntas simples e cotidianas durante as aulas; e não conseguir identificar as expressões dos alunos são apenas algumas diferenças que para quem não dá aula, talvez passe despercebido, mas quem está no magistério sabe como faz falta.  
Antes deste momento delicado de reclusão forçada terminar, não conseguiremos identificar quais dessas tecnologias atualmente usadas poderão ser perpetuadas nas práticas pedagógicas regulares. Se eu tivesse que apostar arriscaria o palpite naquelas que aumentam a capacidade de distribuição de conteúdo aos alunos e nas que facilitam a entrega de tarefas por parte dos alunos. Portanto, acho que o Google Classroom e seus similares vieram para ficar. Também apostaria nos aplicativos e corretores de simulados, que mesmo que já venham sendo usados há algum tempo, tendem a se popularizar entre os gestores de escolas de pequeno porte, que nesse momento se veem obrigados a recorrerem a estes serviços. 
As direções e coordenações exigiram de uma hora para outra, umas dando subsídios outras impondo na marra, que todos os professores fossem especialistas em programas de informática que propiciem práticas pedagógicas. 
Se no futuro o caminho ainda é incerto, e, portanto, é preciso esperar a maré da história baixar para podermos ver o que será deixado na praia, o passado das práticas do magistério é muito claro, e este sim, pode nos dar uma luz sobre os novos tempos.
Desde a criação da primeira universidade do mundo, em Bolonha na Itália, em 1088, até aquela quinta-feira, 12 de março, se nos atermos apenas ao instrumental pedagógico disponível aos professores em sala de aula, a única diferença substancial nesses 932 anos entre a minha aula e de qualquer professor bolonhês do século XI, era o projetor de Power Point preso ao teto na minha sala de aula. Tanto lá quanto aqui, éramos um professor de frente a uma plateia de alunos, com um quadro para exposição da matéria e livros ou cadernos para anotar os conteúdos ditos pelo mestre em questão.
Portanto, assim como nos últimos 1000 anos, no atual momento, de crise paradigmática temporária ou não, em que a grande corrida é pela melhor ferramenta informacional pedagógica, o protagonismo da condução do processo de ensino/aprendizado ainda é o(a) professor(a). Com o perdão do trocadilho, a internet nunca substituirá o “tête-a-tête”, pois é no levantar ou abaixar da voz, na muita ou pouca expressão corporal, na piada ou na bronca, que a mensagem é passada. E isso nenhuma máquina substituirá. Não é na importância ou “desimportância” (inexistente) da função que está a desvalorização da profissão. Sobre isso, há questões mais estruturais das quais precisamos falar.     

 

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Edição 26/04/2024
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