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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Número de queimadas até setembro já é quase o dobro de todo o ano passado

Incêndios criminosos destroem fauna e flora, causam problemas respiratórios e ainda podem gerar desabamentos no período de chuvas

Marcello Medeiros

“A natureza criou o tapete sem fim que recobre a terra. Dentro da pelagem deste tapete vivem todos os animais respeitosamente. Nenhum o estraga, nenhum o rói, exceto o homem”. A citação, do escritor brasileiro Monteiro Lobato, encaixa perfeitamente nesse momento do país. Entre tantos problemas ambientais, nossas florestas estão queimando, morrendo aos poucos, sendo a grande maioria por conta de incêndios criminosos causados justamente por aqueles que dependem desse tão falado meio ambiente para continuar existindo. Muito se discute sobre a questão da Amazônia – mais por conta do debate político do que pela gravidade do problema propriamente dito – mas em Teresópolis a situação também está crítica. De acordo com dados disponibilizados pelo Corpo de Bombeiros do Estado de Rio de Janeiro, entre janeiro e as primeiras duas semanas do mês de setembro foram registradas no município 91 saídas para combate de fogo em vegetação, quase o dobro do mesmo período de todo o ano passado, quando as equipes do 16º GBM saíram 56 para controlar queimadas em áreas de mata do município. O clima seco, quente, com umidade do ar baixa por conta do longo período sem chuvas consideráveis, aliados à irresponsabilidade e inconsequência do homem, tem sido responsável pela destruição de grandes áreas verdes em Teresópolis, muitas em unidades de conservação ambiental, e também em outros municípios da Região Serrana, como em Nova Friburgo, onde atualmente o Caledônia está sendo destruído pelas chamas criminosas.
Nesta sexta-feira (20) estivemos no quartel do 16º GBM para apurar dados sobre a preocupante situação. Fomos recebidos pelo Capitão Ian, com 10 anos de experiência somente na unidade local, e que em 2019 tem tido muito mais dificuldades para realizar a sua importante função por conta dos incêndios simultâneos em vários pontos do município. “Esse ano tem sido um pouco atípico em relação aos anteriores, principalmente por conta dos fatores climáticos. São 15 dias sem chuvas razoáveis, criando uma demanda muito alta para esse tipo de demanda em relação aos anos anteriores. Em agosto, quadriplicou o número de saídas em comparação a 2018. Em setembro, só até o dia 11 já havia superado todo o mês de 2018. Infelizmente, a tendência, caso não venha chuva, é manter esse quadro. Nossa vegetação nativa, além dos pastos degradados, estão extremamente vulneráveis, queimados e ressecados, condições onde o incêndio se espalha rapidamente”, atenta o Oficial do 16º.
O Capitão lembra ainda que os problemas vão além dos que são facilmente e diretamente perceptíveis, como danos à fauna e flora: As queimadas podem desencadear doenças respiratórias. “É uma questão de saúde pública. Já temos estudos dentro nossa região de atendimento mostrando aumento dos casos de problemas respiratórios, pois além do clima seco, o que já é ruim para essas doenças, os rejeitos da queima ficam em suspensão no ar se houver um longo tempo sem chuva para lavar a atmosfera. Por essas e outras estamos sempre orientando a população a não fazer queimadas, não colocar fogo em lixo, em pasto, fazer aceros, nada, porque pode gerar uma situação ainda pior para todos”, pontua.
Diante do alarmente número de saídas diárias em Teresópolis para esse tipo de ocorrência, lembrando que os outros tipos de atendimento precisam continuar sendo realizados, como socorro em acidentes de trânsito, por exemplo, as folgas e férias da corporação estão suspensas. Somente essa semana, grandes focos foram registrados na região do Terceiro Distrito, entre nosso município e Nova Friburgo. Um dos locais afetados pela covardia humana foi o Seio da Mulher de Pedra, formação rochosa localizada na área do Parque Estadual dos Três Picos.

Problema também no Verão
E os problemas causados pelas queimadas não terminam quando acabam o período de estiagem, muito pelo contrário. Com a destruição das florestas nas encostas e topos de montanha, aumenta consideravelmente o risco de escorregamento de terra e pedras, situação que pode causar destruição e mortes em diversas comunidades. “Isso já é uma realidade dentro dos estudos que temos realizado. Temos feito um comparativo das áreas que sofrem queimadas recorrentes dentro do nosso histórico e regiões estudadas e classificadas como área de maior risco de deslizamento e elas coincidem. Havendo a perda da cobertura vegetal, a demora para ela se restabeleça é grande e geralmente muito maior que a chegada da chuva, até porque quando para de queimar já começa a época dos temporais. Com a capacidade de absorção da água reduzida, sem a vegetação nas encostas, a tendência é que a água da chuva siga com muito mais fluidez, causando essas erosões”, enfatiza o Capitão.

Trabalho difícil
Além do aumento considerável do número de ocorrências, é preciso levar em conta que os locais onde acontecem os incêndios geralmente são de acesso bastante difícil. Por isso, não é tão simples controlar as chamas se elas estiverem em costas íngremes, vales sem acesso ou áreas rochosas. Em alguns casos, somente aeronaves conseguem fazer o ataque ao fogo. “Às vezes as pessoas olham o fogo de longe e não conseguem entender a dimensão do problema e perguntam onde estão os Bombeiros. Na grande maioria das vezes já estamos lá, mas há casos que é preciso abrir caminho, encontrar maneiras de chegar mais perto, e isso demora, sem contar o peso do equipamento utilizado. Em uma das ocorrências que participei, por exemplo, em uma área virgem do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, tivemos que caminhar 4h30 só para chegar no local do incêndio. Mesmo assim, fizemos o controle e a extinção total só aconteceu depois que choveu diante dessa dificuldade de acesso. E isso acontece em muitas montanhas da cidade, sendo necessário desdobrar o atendimento das aeronaves para chegar”, relata Ian, lembrando que, quando o fogo atinge regiões com ocupação humana, a preferência é combater as chamas mais próximas das residências.

É crime, dá cadeia
Geralmente o fogo tem início em margens de estradas ou propriedades vizinhas a florestas e encostas, tomando posteriormente locais de difícil acesso e consequentemente proporções quase que incontroláveis. Além do óbvio prejuízo à fauna e flora, os incêndios florestais podem gerar outros problemas que afetam diretamente o homem, como a supressão de nascentes e o aumento considerável do risco de escorregamentos de terra. Sem a proteção do solo, quando chega o período de chuvas fortes aumentam as possibilidades de deslizamentos. Incendiar as florestas é crime contra o meio ambiente, contra as pessoas e as espécies animas e vegetais. As leis que falam sobre isto são: Código Florestal (Lei Federal nº 12.651, de 25 maio de 2012), Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998), Lei Estadual nº 3.467, de 14 de setembro de 2000.
Os focos de incêndio em vegetação são mais comuns quando há conjunção de fatores como baixa precipitação, pouca umidade do ar e altas temperaturas. A população pode ajudar a prevenir este tipo de ocorrência ao evitar acender fogueiras, queimar lixo no quintal, soltar balões, jogar pontas de cigarro em qualquer ambiente, principalmente, nas estradas próximas à vegetação, e jogar garrafas de vidro em áreas florestais e em beira de estrada. Elas funcionam como lente de aumento para os raios solares, gerando calor. Quem provoca incêndio está sujeito a pagar multas altas ou até mesmo ser preso, dependendo das consequências dos seus atos. O crime deve ser denunciado pelo telefone da Policia Militar (190).

 

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Edição 28/03/2024
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