Cadastre-se gratuitamente e leia
O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
em seu dispositivo preferido

Bióloga explica “encontro de cobras” na Pedra do Elefante

Profissional fala sobre espécie avistada, procedimentos em casos de flagrantes e como agir se houver acidentes

Marcello Medeiros

Um dos assuntos que teve bastante repercussão e discussão nas redes sociais nos últimos dias foi o “encontro de cobras peçonhentas” na trilha da Pedra do Elefante, montanha na área do Parque Estadual dos Três Picos, acessada nas proximidades do Mirante do Soberbo e de onde se tem excelente vista para outra unidade de conservação ambiental, o Parque Nacional da Serra dos Órgãos. O flagrante não deveria ser tão impressionante, visto que o local em questão é a “casa” desse tipo de animal e que o homem é o verdadeiro intruso. Ainda assim, houve quem compartilhasse ou comentasse a publicação original sobre o assunto dizendo que “tem que chamar os Bombeiros para tirar” ou, pior ainda, “que é perigoso e tem que matar”.  O jovem que fez a postagem disse ter visto dois exemplares, um próximo do mirante, e que “se ela quisesse me atacar, tinha atacado porque cheguei muito perto sem ver”, comentou, em tom de alerta aos futuros visitantes. Para esclarecer essa situação, identificar os animais avistados, orientar as pessoas que fazem trilhas ou podem encontrar cobras em outros ambientes, conversamos com a Bióloga Ana Paula Ligneu. Além da formação na área ambiental pelo Centro Universitário Serra dos Órgãos, ela trabalhou por um período no renomado Instituto Butantan, em São Paulo, onde adquiriu muito conhecimento e a paixão pelos répteis. “Vi muitos comentários falando sobre risco de ataque, mas o termo não é correto. Esse tipo de animal não ataca ninguém. Para realizar um ataque ele teria que promover um gasto de energia muito grande, energia que poderia usar para se alimentar, trocar de pele, procurar refúgio. Quando dão um bote, é para se defender. Elas se camuflam muito bem, nas pilhas de folha, arbustos, então quando a pessoa passa perto, esbarra, elas entendem como uma ameaça e dão um bote para se defender. Há casos até de bote seco, onde não inocula o veneno, pois irá precisar produzir novamente para se alimentar, imobilizar presas, etc”, atenta.
Os animais registrados pelo trilheiro no último fim de semana são da espécie Bothrops jararaca, que junto com uma “prima próxima”, a Bothrops jararacuçu, é responsável pelo maior número de acidentes ofídicos no Brasil devido à sua grande ocorrência. Além do parque onde está a montanha, é vista com frequência nas outras unidades de conservação que cercam o município e por vezes em ambientes urbanos – visto que o crescimento populacional e a pressão antrópica das comunidades às áreas de mata, mesmo as preservadas por parques, acabam causando grande desequilíbrio ecológico. No caso dos flagrantes na trilha do Elefante especificamente, a Bióloga lembra que devido à redução de visitação no período de pandemia, esses e outros animais passaram a se sentir “mais à vontade” nos locais de passagem, por isso mais registros como o do fim de semana. Ainda assim, alerta, a trilha não está “infestada de cobras”, como alguns internautas divulgaram, assim como não se deve tentar retirá-las ou machucá-las. “É preciso ter respeito. Se a pessoa puder passar sem tocar ou chegar perto, tranquilo. Se não der para continuar o passeio sem passar por ela, o ideal é retornar”.


Para tentar mudar a ideia que “cobra é inimigo” e que “toda cobra tem que morrer”, a Bióloga destaca a importância da educação ambiental. Nessa difícil missão de tentar conscientizar a população sobre essa questão, Ana Paula conta com a ajuda da “Lisboa”, sua Jibóia de estimação

Ação do veneno
Ana Paula lembra que apenas 17% das cobras registradas em território brasileiro são peçonhentas, ou seja, possuem a capacidade de inocular o veneno em suas presas. No caso das Jararacas, causando dor e necrose no local atingido, hemorragia e afetando o sistema de coagulação sanguíneo. O tempo de ação é considerado lento e, se for vítima de acidente, a pessoa deve ser levada para o Hospital das Clínicas Constantino Ottaviano (HCTCO), referência na região. “A pessoa deve se manter calma, se possível lavar o local com água e sabão e ir para o hospital o mais rápido possível. Se der para acionar o Corpo de Bombeiros, é melhor. Se não, caso ainda tenha que caminhar, o ideal é que vá com calma e ajuda de amigos, se possível, para diminuir a velocidade da circulação do veneno no sangue. Não é recomendado fazer torniquete, visto que se prender o membro atingido vai concentrar todo o veneno naquela região, aumentando o risco de perda tecidual e necrose. Além disso, quando o médico soltar o sangue vai ser bombeado com mais força e rapidez pelo corpo. Também não se deve cortar o local achando que o sangue vai sair, pois isso só aumenta o risco de uma infecção secundária. Não se deve chupar para tentar tirar o veneno, pois o máximo que vai acontecer é ter duas pessoas envenenadas. Sem bandagem, sem colocar nada em cima, como tabaco e até álcool, como já disseram. Basta elevar o membro, se manter calmo e procurar o hospital para realizar a soroterapia”.

Importância ecológica
Ana Paula lembra que é crime matar animais silvestres, que os Bombeiros podem ser acionados em casos de flagrantes fora dos habitats naturais desses animais e destaca a importância ecológica das cobras. “Elas têm um papel fundamental na natureza, fazem parte desse equilíbrio. Se tiramos um animal de lado, desequilibramos o outro. Além de serem alimentos de diversas outras espécies, elas fazem o controle de outras, como roedores, lesmas, exercendo esse papel de controle biológico. Outro exemplo são os medicamentos, como o Captopril, que é produzido através de uma proteína extraída do veneno da Jararaca, só para citar um exemplo”.

Educação ambiental
Para tentar mudar a ideia que “cobra é inimigo” e que “toda cobra tem que morrer”, a Bióloga destaca a importância da educação ambiental. Nos últimos anos, ela realizou dezenas de ações em escolas, empresas e até lavouras na zona rural, contribuindo para mudar a ideia errônea sobre o esse tipo de réptil. “Não é fazer com que as pessoas queiram pegar, levar para casa, até porque são animais selvagens, mas para ajudar a compreender a sua importância ecológica e da manutenção do equilíbrio natural das coisas”. 
Nessa difícil missão de tentar conscientizar a população sobre essa questão, Ana Paula conta com a ajuda da “Lisboa”, sua Jibóia de estimação. “Ela é uma Jibóia amazônica de três anos, comprada em um criadouro legalizado, que costumo levar para essas ações. Tenho filhos de dois e seis anos, que entendem que podem manusear com supervisão e respeito, aprendendo mais sobre esses animais”, diz, lembrando que essa espécie em específico é constritora, ou seja, no lugar do veneno utiliza o esmagamento contra suas presas. “É possível ter cobras como essa de estimação, mas nunca retirada da natureza. Além de ser crime, é perigoso. As selvagens tendem a ser mais agressivas, não estão acostumadas com a interação com o ser humano. As de cativeiro são dóceis”, completa.
A principal diferença de uma cobra peçonhenta para a livre de veneno é a fosseta loreal, órgão sensorial termoreceptor localizado entre olho e narina. Mas, enfatiza a Bióloga, em caso de encontro com esse tipo de animal não é recomendado tentar identificar se ele pode inocular veneno ou não. “Se está no habitat natural, deixe ir embora. No máximo tirar foto de longe, mas não chegar perto. É preciso respeita-la e assim se diminui as chances de acidentes”.

 

Tags

Compartilhe:

Edição 24/04/2024
Diário TV Ao Vivo
Mais Lidas

Bonsucesso recebe serviços gratuitos “RJ para Todos” neste sábado

Coréia: um mês após tragédia moradores ainda aguardam o poder público

Teresópolis: Saque FGTS é liberado para moradores de áreas atingidas pelas chuvas

Dengue: Teresópolis chega 965 casos em 2024

“Jantar Imperial” neste sábado no restaurante Donna Tê em Teresópolis

WP Radio
WP Radio
OFFLINE LIVE